como se todo o mundo fosse periferia

Paulo é desprezado, apedrejado e “morto” no centro, na cidade.
Fora da cidade, a periferia, a fronteira,
apresenta-se como o lugar do cuidado, da saúde, da vida dedicada,
porque no limite saboreamos a semelhança.

O “sofrer muito” de que fala Paulo – a ponto de morrer – passou,
e passa, por trazer para o centro o que é próprio da periferia:
mais pontes que fronteiras,
mais cuidado e dedicação que cálculos e esquemas.

É essa paz que falta construir,
“sem vencedores nem vencidos”,
feita de pontes e laços de irmãos.

de pé, à minha altura

O texto “Actos dos Apóstolos” coloca-nos em posição desconfortável:
fomos expulsos de certos centros,
enviados, aceites, reconhecidos em periferias.
Assim aconteceu com Paulo e Barnabé
que na periferia reconhecem num frágil
fé para ser curado,
laços de vida, relação, amor, para viver de pé, para viver com sentido.

Reconhecer fé, relação, amor no próximo, no frágil, é colocá-lo de pé, é fazê-lo viver,
colocá-lo à minha altura, levantá-lo e olhá-lo como semelhante, como irmão
– sendo essa a forma mais eloquente de tratar Deus por Pai.

Essa é a morada de Deus:
aquele em quem acreditamos, vive, faz-se carne, habita, ressurge
em cada palavra, em cada gesto de vida oferecida
que garante sermos imagem e semelhança
do Deus que se faz semelhante.