o ensaio já começou

Nos textos servidos para o dia de hoje,
assistimos a inseguranças, a incertezas
de tempos, de espaços, de relações.

Lucas apresenta Paulo a criar uma rota de cidades
e a redefinir os seus interlocutores – cada vez mais improváveis.
João apresenta três vezes o mesmo enigma indecifrável,
entre ver Jesus, a sua ausência e a visão definitiva,
sugerindo nesse tempo de ausência, de busca,
ambiguidades entre tristeza, gozo e alegria.

É neste estado que o cristianismo das origens nos é apresentado:
gente e quotidianos de busca, de construção;
gente improvável que se revelam cuidadores,
espaços inesperados onde se lançam pontes entre semelhantes.

É esta a Páscoa que faz sentido ensaiarmos a cada passo
até sermos um.

confirmam-se genes de bondade, de verdade, de beleza no nosso sangue

Ao acenar a um Deus-Agente, 

a um Deus-Espírito que nos ensina, que nos faz conhecer, que nos guia na verdade,
João não fala de “fantasmas”. Antes, releva um Deus que incarna 
e continua a respirar no ser humano.
Como em Paulo, como o sopro que sai de Paulo aos seus contemporâneos 
sem condenação,
cheio de vontade de aproximar,
cheio de laços e pontes.
Palpa-se aí a presença do Deus do qual somos da mesma raça.
E se o escândalo de poder ressurgir fez rir alguns,
se pode parecer absurdo que até Deus esteja interessado em que comecemos sempre de novo,
é mesmo essa Páscoa que queremos celebrar:
do Deus que, falando a nossa linguagem,
nos convoca a passar o próprio tempo
em cada laço, em cada ponte, que devolvem o presente, que antecipam o eterno.