O autor do livro de Jonas propõe-nos uma reflexão cómica
– reflexão, na medida em nos sentimos espelhados, reflectidos naquele Jonas,
apresentado como um “domador de deuses”.
Neste personagem estamos nós e as nossas previsões sobre Deus,
e as nossas previsões sobre os outros.
Nínive, a enorme cidade de Nínive, a cidade para muitos próspera, para outros tantos condenável
– como todas as cidades de todos os tempos – foi perdoada.
Jonas é que quase não perdoa Deus.
Deus ama, perdoa, acolhe os que dizemos serem os nossos piores inimigos,
os que dizemos serem maus, levianos, não-praticantes, ateus, cínicos,
os que nos tratam com indiferença…
A nossa missão não é condená-los em nome de Deus algum;
nem tampouco amuar em nome dos homens e do mundo…
Jonas significa pomba; simboliza mansidão e invoca a história de Noé,
onde a pomba anuncia a melhor notícia, recordando a finalidade da grande viagem,
do “regresso a terra”…
Possivelmente, todos os dias escutamos, lemos, tropeçamos no “evangelho”,
na “boa notícia”, na “melhor notícia”.
O que nos é pedido é que – como “aves de esperança” – anunciemos a melhor notícia,
que Lucas nos lembra no diálogo de Jesus com os discípulos: Deus é nosso Pai.
Sermos da mesma família de Deus, amados, predilectos, herdeiros, é a melhor notícia,
a principal razão da morte de Jesus,
que, em tudo, dissipou fronteiras e construiu pontes entre semelhantes.
Anunciamos a melhor notícia sempre que nos olhamos como semelhantes,
sempre que nos cuidamos como irmãos.
[a propósito de Jonas 4,1-11 e Lucas 11,1-4]