A história de Jesus, nesta página de Lucas, apresenta-se como um problema de interpretação.
Como lê-lo sem tiques moralistas? Como identificar personagens? Diríamos rapidamente que aquele nobre tirano e assassino é Deus? E aquela escolha aleatória de servos e distribuição de governos de cidades diz a nossa relação com Deus?
Habituamo-nos a fundamentar neste texto a condenação da preguiça e o louvor do esforço – de um esforço com uma linguagem comum à da banca…
O que é feito do Jesus desconcertante da gratuidade que desarmava os fariseus? – pergunta o leitor.
Esta história é contada a discípulos – diríamos – despistados; aos discípulos que em vez de assumirem a gratuidade, o dom como construção desse novo e estranho Reino, esperam que Deus seja sempre dom e que os substitua… Esta “subida para Jerusalém” parece significar coisas distintas para Jesus e para a “comissão política”…
Esta história devolve-nos o protagonismo,
devolve-nos o centro na “História Universal da Gratuidade e do Dom”.
O dom como lugar de Deus, como revelação de Deus, como construção do Reino
é o nosso tesouro
que nós não queremos guardar no lenço dos cálculos, das desculpas sobre o estado do mundo ou sobre os nossos “adversários”.
– Senhor, é agora que vais decidir instaurar o Reino?
– Diz-me tu. Só estou à tua espera…
[a propósito de lucas 19,11-28]