quem habitará a nossa casa?

Não basta dizer “- Senhor! Senhor!”.
Ao estranho “Reino dos Céus” que aquele judeu marginal, da periférica região da Galileia, Jesus
vem anunciar e demonstrar a sua possibilidade de construção em qualquer presente, 
a esse estranho reino não se pertence por invocação.
Fazer a vontade de um “Deus-papá” – diz Jesus pela pena de Mateus – é como “construir uma casa”.
Deixando a infantil “reflexão” moralista sobre a catalogação de pessoas por diversos tipos de solo, 
parece-me sugestivo que se insinue que a “entrada no Reino dos Céus fazendo a vontade de Deus-papá” 
seja como construir uma casa.
“Construir” diz um processo, não se arruma de uma vez, 
requer tempo, implica ajuda, só é possível com o contributo de muitos…
E “casa” – nos evangelhos – é sempre o lugar do excesso, da desmesura,
do escândalo, do acolhimento sem medida…
[recordo o frasco de perfume de nardo puro, caríssimo, partido aos pés de Jesus, quando duas gotas seriam suficientes; recordo os pés lavados com lágrimas e enxugados com cabelos; recordo as operações matemáticas do 70×7 e da “equação de Zaqueu” que o deve ter deixado em urgência de “resgate financeiro”…]
Se a minha vida for um “processo” de olhar a igreja, de olhar o mundo como “a casa”,
como o único espaço de cuidado, como o espaço habitado por todos,
onde todos têm lugar,
entrarei no “Reino dos Céus”;
ou, pelo menos, a porta de entrada estará mais perto do que o que se poderia imaginar…
Coloco no centro da oração deste dia
todos os que experimentam uma igreja “invertida” numa máquina de exclusão.
Coloco no centro da oração deste dia
todos os que pela sua orientação sexual – nem sempre escolhida -,
carregam o fardo da impureza, da exclusão e da condenação.
Coloco no centro da oração deste dia
a Assembleia que Jesus sonhou, a Casa que ele fundou sobre a rocha
como o lugar para todos se sentarem à mesma mesa.
Não quero ser eu a “a-fundá-la” em areia.
[a propósito de mateus 7,21-27]

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