Facilmente comparamos “as coisas de Deus”, as coisas de que gostamos, os círculos de que fazemos parte, a coisas importantes, sérias, solenes. Frequentemente, a Igreja é comparada a uma empresa; o Código de Direito Canónico, de 1917, de que ainda somos herdeiros, descrevia a Igreja como “sociedade perfeita”.
Jesus, pela pena de Lucas, apresenta-nos um critério de comparação para tentarmos definir esse estranho Reino de que veio falar: a possibilidade; o poder-ser. A imagem da ínfima semente que pode nascer, crescer e tornar-se o maior dos arbustos da horta, ou do fermento que pode crescer e pode fazer crescer a massa, acena-nos à verdade de que no Reino de Deus todos podem ser. Esse Reino é lugar de possibilidade. E – escandalosamente, à época – os que experimentam barreiras, censuras, juízos, preconceitos, sobretudo esses, podem ser.
No Reino de Deus – cada um pode dizê-lo em verdade – eu posso ser.
Facilmente nos colocamos no lado dos salvos, dos bons, dos puros, dos verdadeiros, dos legítimos; quer os que se consideram pecadores, quer os que utilizam esta categoria como recurso retórico para comover. E quase sem nos darmos conta, o culto da nossa certeza alimenta-se do sacrifício dos muitos que excluímos.
Hoje queremos rever juízos, tiques, modos de julgar, modos de ser e de estar que não deixam outros ser; que não deixam crescer, que não deixam levedar.
Queremos hoje deixar ecoar o grito de Jesus – no capítulo 25 de Mateus – em tudo o que fizermos aos outros: “foi a mim que o fizeste”.
[a propósito de Lucas 13,18-21]