Nestes dias em que celebramos as manifestações de Deus na nossa vida, admitimos que ele se manifesta, mas perguntamo-nos: “como reconhecê-lo?”.
Se o tempo de advento nos treinou à surpresa de esperar o inesperado, se o quadro do presépio, com a nudez do menino Jesus, marginais pastores como primeiros destinatários, estrangeiros como primeiros adoradores, percebemos que o despojamento e a surpresa são registos nos quais se vê Deus.
Hoje Marcos acrescenta: Jesus manifesta-se nas nossas dúvidas e não prescinde das nossas habilidades e qualidades.
A resposta de Jesus – “dai-lhes vós de comer” – devolve-nos protagonismo e deixa cair muita superstição, na medida em que não permite que nos demitamos de construir aquilo que pedimos que Deus faça.
A dúvida dos discípulos sobre o como fazer – presente em todos os “relatos de vocação” de profetas e outros personagens bíblicos, como Maria de Nazaré – coloca Jesus em condições de agir com aquilo que é nosso, com o que trazemos, com o que somos.
Apresentemos o nosso engenho e o que prevemos, mas apresentemos, sobretudo, as nossas dúvidas e incertezas, aquilo que nos escapa.
Saboreemos a manifestação de Jesus na nossa vida multiplicada, feita dom abundante, no silêncio das explicações.
[a propósito de Marcos 6,34-44]