“Aos de fora” fala-se em parábolas para que ao olharem não vejam,
ao ouvirem não compreendam, senão converter-se-iam e seriam perdoados… Aos seus discípulos tudo lhes explicava; logo compreendiam, podiam arrepender-se e experimentar a alegria de recomeçar.
Marcos fala de uma intimidade reveladora – aliás, toda a intimidade é reveladora, para não dizer que só a intimidade é reveladora.
Aos seus íntimos, Jesus diz: “a vós foi dado a conhecer o mistério do Reino de Deus”.
E o mistério do Reino de Deus que nós conhecemos prende-se com esta história desconcertante…
Jesus, um camponês dos subúrbios, atento à linguagem da terra, apresenta-nos um agricultor – que nós associamos logo a Deus Pai, ou ao próprio Jesus – que não percebe nada de agricultura: nem prepara a terra, nem usa de medida com o uso das sementes…
Um leitor desprevenido diria que este agricultor é preguiçoso e gastador, negligente e excessivo; pelo que não merece boa colheita por falta de cálculo e de razoabilidade.
Esta é a linguagem do Reino que Jesus pede aos seus íntimos:
que os seus gestos e palavras sejam dom, como a vida inteira pode ser, dom sem medida…
que os seus íntimos sejam como este agricultor, capazes de dar, de gastar, de se dar a “todos os tipos de terreno”, sem cálculos, ou justificações razoáveis…
que acreditem em todos, e sempre, que não desistam de ninguém!
[a propósito de Marcos 4]
One thought on “deus, um agricultor desajeitado”
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