sempre a tempo

A missão de Jesus parece apresentar-se clara aos leitores de Marcos:
Jesus cura, e cura e volta a curar… Sim, Jesus devolve o que retira a unidade, 
devolve o que me afasta do meu semelhante, o que me afasta da relação.
– ao falarmos de “daimon” [figura que as mitologias antigas descreviam ser acima de homem, associada à ideia de destruição] interessa muito pouco perdermos tempo a descrever seres abstractos, figuras de estilo, como se com o nosso melhor amigo falássemos de meteorologia… falamos da minha “grandeza” que esmaga o outro, 
do meu egoísmo que esgota a minha vida, e a dos outros, em mim… esse é o “demónio” sem efeitos especiais, o meu “eu-em-circuito-fechado” que Jesus rebenta por dentro –
Não se pense que a missão de Jesus se lhe apresenta de forma óbvia, clarividente, imponderada…
Sendo semelhante a nós, 
tal como aconteceu com Samuel, que repetidas vezes se sentiu chamado 
e a escuridão da noite – símbolo de uma vida inteira e não de umas horas – 
impossibilitou a clareza da decisão,
a “oração retirada” de Jesus, o seu caminho de busca,
deixa-nos ver um Messias que em discernimento diário, dia-a-dia, passo-a-passo,
escolhe habitar uma terra condenada,
tocar gente condenada,
praticar hábitos condenáveis…
garantindo-nos que o “Deus da Lei do Amor” – assim se completa –
habita para lá do que eu julgo saber, do que condeno, do que já desisti…
O Profeta-Marginal Jesus vem gritar – naquela velha sogra de Pedro – 
que ainda vamos a tempo de servir, 
de curar o que nos impede de vivermos para os nossos mais próximos.
[a propósito de 1 Samuel 3 e Marcos 1]