Iniciamos um tempo novo. Se tirarmos da contabilidade os Domingos – que são sempre Páscoa – da Quarta-feira de Cinzas ao Domingo de Páscoa são 40 dias, por isso o nome “quaresma”. Este tempo muito simbólico e muito prático coincide sempre com a mudança de estação: começamos sempre no Inverno e terminamos sempre na Primavera. Desde muito cedo que os discípulos de Jesus não prescindem de celebrar este êxodo: do que parece morto, donde já nada esperamos, à vida que nos surpreende. Assim, dispomo-nos a um caminho, o mesmo é dizer, dispomo-nos a não ficarmos no mesmo sítio. Estimulamo-nos uns aos outros dizendo que nada está suficientemente morto na nossa vida que não possa ressuscitar, nada está definitivamente partido que não possa recuperar-se… é isto que nos dizem as cinzas: num gesto irónico, escolhemos o símbolo máximo da destruição para dizermos: “nem isto é o fim”. Possa o tempo de Quaresma ser um tempo muito prático onde nos decidimos a fazer obras de restauro e remodelação da nossa vida. Essas obras da nossa casa interior são para recebermos melhor quem nos é oferecido como presente em cada dia. Cada um sabe quem pode ressuscitar, erguer, perdoar ou pedir perdão. Queremos ampliar e abrir o tempo, para que não se esgote nas necessidades e confortos de cada um, e queremos rever a dimensão do espaço que ocupamos. O jejum lembra-nos isso mesmo: a maçã não existe para que a consumas, o que existe não existe para que o devores, mas para que cuides e partilhes. Isso nos lembra a esmola, como dom daquilo que é importante, e não do me sobra. Tudo isso mantém-nos em oração, o mesmo é dizer, atentos e abertos. Se páscoa significa passagem, trânsito, êxodo, desejo-te desde já uma feliz páscoa.
Para quem desejar, o Papa Francisco celebra a Eucaristia com imposição das cinzas (guião da celebração) às 8:30 (hora de Lisboa), transmitida pelo YouTube, ficando disponível para assistir depois a qualquer hora.