acredito que também tu subias ao telhado

Ainda no segundo capítulo e já Marcos descreve Jesus como uma vedeta:
uma multidão em sua casa, em Cafarnaum.
No entanto, Marcos vai acenando à diferença deste “rabi-vedeta”:
este ocupa-se e preocupa-se com a multidão,
e com cada um dos que a formam – particularmente o mais esquecido…

O quadro que nos é apresentado hoje pode bem ser uma imagem sobre a vida dos discípulos de Jesus,
e um excelente contributo para se definir “fé”.
Quatro homens – não menos – interessam-se
por um condenado, por um castigado, por um maldito, por um inútil…
[assim se classificava alguém que não podia praticar a Lei e se explicava o absurdo do sofrimento]
E não bastava esta desproporção de quatro homens interessados “naquilo”
como se lhe acrescenta uma aparatosa manobra para colocar
o “desgraçado-de-bastidor” a contracenar com o actor principal cheio de graça.
– de facto a casa é lugar de escândalo de medidas, de excesso de amor [nos evangelhos como na nossa vida] –

“Fé” – do verbo hebraico aman – significa à letra “amarrar”, “criar laços” diríamos nós,
transportados já para a linguagem do coração, da relação, da amizade.
E o que aconteceu foi um gesto de quem ama,
de quem não desfaz o laço,
de quem não desiste,
de quem se empenha no bem do outro, do semelhante, não já no “aquilo”…
Jesus confirma que ali há amor, e onde há amor não há pecado,
o amor é dom e não deixa espaço à vida seca e fechada em si.
É a gramática do dom, do amor,
é a gramática dos laços, da fé
que devolve a semelhança,
que devolve o que falta,
que, verdadeiramente, cura!

[a propósito de Marcos 2]